KARATE DO SHOTOKAI BRASIL

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Dogishin - Karatê

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Breve biografia de Harada Sensei-Extraido do Site KDS-Portugal

Sensei Mitsusuke Harada MBE

O Mestre Mitsusuke Harada nasceu na Manchuria a 16 de Novembro de 1928. Filho de um oficial do Exército Japonês, fica na China até aos 9 anos de idade, altura em que regressa a Tokyo.

Como a maior parte dos jovens japoneses, fez Kendo na escola. Com 13 anos de idade assiste a uma demonstração de Karate de Yoshitaka Funakoshi, filho do Mestre Gichin Funakoshi (1896-1957).

Começou a praticar Karate em 1943, com 15 anos de idade, no Shotokan Dojo do Mestre Gichin Funakoshi, recebendo aí instrução de Yoshitaka Funakoshi, Motobu Hironishi, Wado Umeura e de outros estudantes seniores do Dojo.

Durante a 2ª Guerra Mundial (em Março de 1945), o Shotokan Dojo, em Tokyo, é destruido pelos bombardeamentos americanos à cidade e os seus treinos interrompidos.

A sua carreira de Karateka só começará verdadeiramente em 1948, na Universidade de Waseda, onde, paralelamente aos seus estudos de Economia, se inscreve no Dojo de Karate da Universidade. Aí pratica sob a orientação de alguns instrutores famosos da altura: Egami, Okuyama, Takagi, Watanabe e também do próprio Mestre Funakoshi, que uma vez por semana ali ia dirigir os treinos.

Em Waseda e como Capitão de Equipa tem um colega famoso: Tsutomo Oshima (radicado nos Estados Unidos da América desde 1955, funda em 1969 o S.K.A. - Shotokan Karate of America).

Durante um treino em Waseda, é observado pelo Mestre Shigeru Egami (1912-1981) que o convida a treinar pessoalmente com ele. A partir desta altura, treina com ele todos os dias (3 horas) durante um ano e meio. Esta prática pessoal foi um período extremamente rico e que influenciou para sempre o seu percurso de Karateca. Mestre Harada, referindo-se a esses treinos com Mestre Egami, contou uma vez: "Não havia descanso, nem aos Domingos nem nos feriados. Fizemos isso 3 horas por dia, durante quase 2 anos."

Treina com Mestre Tadao Okuyama durante 2 anos. Desses treinos, guarda recordações de uma prática diferente, de métodos de treino e de uma atitude mental já avançados para a época e que dificilmente poderiam ser transmitidos em simultâneo a grandes grupos, mas unicamente através de um contacto pessoal e constante.

No Kodokan de Tokyo (no fim da guerra), o Mestre Harada e o Mestre Masatoshi Nakayama, ensinam Karate à Força Aérea Americana estacionada no Japão.

Mestre Harada com Mestre Kiyoshi Kobayashi

Em 1956 e com 28 anos de idade, recebe o seu Diploma de 5º Dan assinado pelo próprio Mestre Gichin Funakoshi, que o incentiva também a ensinar Karate no Ocidente. Até hoje, recusa-se a aceitar qualquer outra graduação. Nesse ano, enviado pelo Banco onde trabalhava para o Brasil, deixa o Japão e fica em São Paulo até 1962.

A pedido do Mestre Funakoshi, funda em 1957 o Brasil Shotokan Karate Dojo e organiza o Karate-Do Shotokan Brasileiro. Em 1959 o Mestre Tsutomo Oshima visita-o em São Paulo.

Em 1963 e a convite de Howan Nam ensina Karate em Paris. Da Bélgica (1963) convidado pelo Mestre Kenshiro Abbe (Presidente do British Judo Council) parte para Inglaterra para aí ensinar Karate-Do. Fixa-se definitivamente em Londres, onde em 1966 funda o K.D.S. - Karate-Do Shotokai.

Desde o seu 1º Estágio em Lisboa (Judo Clube Portugal, Maio de 1979) o Mestre Harada vem regularmente a Portugal.

A partir de 1980 e até ao presente, é Conselheiro Técnico da APK - Associação Portuguesa de Karate-Do.

Conhecedor profundo daquilo que ensina, possui e transmite um Karate "avançado" e de grande qualidade. Os seus estágios na Europa são seguidos por um número cada vez maior de karatekas.

Documento antigo, assinado pelo Mestre Shigeru Egami, atestando que o Mestre Mitsusuke Harada é o representante oficial e director técnico para a Europa do Karate-Do Shotokai (clique para aumentar)

Actualmente dirige estágios em Inglaterra, Escócia, País de Gales, França, Bélgica, Estónia, Filândia, U.S.A., Israel, Gibraltar, Espanha, Portugal e Canadá.

Em 2007, o Mestre Harada foi condecorado Member of The British Empire (MBE), pelos serviços prestados ao desenvolvimento do Karate-Do.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Entrevista com Mitsusuke Harada publicada pela Revista Inside Kumite


Entrevista com
Mitsusuke Harada

Principal Instrutor do Karatê-Do Shotokai KDS e ex-aluno de Gichin Funakoshi e Shigeru Egami

Entrevista por Jonathan de’Claire com ajuda de Marie Kellet.

Jonathan de’Claire: Sensei, você treina ininterruptamente desde que você começou o Karatê no Dojô Shotokan em 1943. Isto deve ter causado uma grande uma grande impressão em você. Pode relembrar quais foram aquelas impressões todos esses anos?

Mistusuke Harada: Houve duas coisas que me impressionaram inicialmente quando treinava no Dojô Shotokan. Uma coisa foi Yoshitaka Sensei (filho de Funakoshi) e outra foi o kata Kanku Sho. O treinamento no Dojô Shotokan era geralmente à noite. Enquanto nós estávamos treinando, Yoshitaka Sensei chamava um faixa-preta para praticar com ele. O faixa-preta o atacava, mas assim que Yoshitaka tocava no corpo dele o faixa-preta caía y com cada ataque diferente acontecia o mesmo resultado, com o faixa-preta caindo no chão. Isto me impressionou muito e ficou comigo até hoje! Ver Yoshitaka alcançar isto me motivou a procurar o que hoje é chamado HAKKEI.

Eu vi pela primeira vez o kata Kanku Sho em uma apresentação e foi o salto com chute que me impressionou. Mas infelizmente no Dojô Shotokan eu não tive a oportunidade de estuda-lo.

Quando ingressei na Universidade de Waseda, em 1948, no primeiro ano eu não sabia todos os kata mas até segundo ano nos já tínhamos treinado todos os kata denominados Shotokan. Mas nós nunca fizemos Kanku Sho. Então, eu perguntei para os mais experientes sobre este kata e apesar de eu não saber o nome na época, lembrava-me do salto com chute, o qual eu descrevi para eles. Eles então me disseram que era Kanku Sho. Mas infelizmente não tive oportunidade naquela época de aprendé-lo. Logo, em 1967 quando eu voltei para o Japão vindo da Grã Bretanha, eu tive a chance de aprender Kanku Sho com um grupo na Universidade de Waseda.

JdC: Sensei, você comanda o seu grupo KDS, de acordo com as filosofias ou ensinamentos do seu professor Gichin Funakoshi. Quais são as suas memórias de O’Sensei e seu Karatê?

MH: A idéia de Karatê de Funakoshi era principalmente ginástica e não luta. Sua filosofia era: o treino do Karatê poderia realçar e desenvolver o caráter de uma pessoa. Ele vinha até Waseda aos sábados, onde ele mostrava algumas coisas, mas não muito pois naquela época ele já tinha mais de oitenta anos. Mas na minha opinião, O’Sensei era um educador de Karatê mais do que um treinador. Mas, sua personalidade e especialmente sua fé no Karatê, foi o que me impressionou inmensamente!

JdC: O filho de O’Sensei, Yoshitaka, foi treinado extremamente tanto em Okinawa como no Japão. Mesmo assim o Karatê dele foi diferente ao do seu pai. O que era diferente no Karatê de Yoshitaka quando comparado com o do seu Pai?

MH: Como eu mencionei anteriormente, o Karatê de O’Sensei era mais como uma ginástica. Sua ênfase era principalmente em kata e ocasionalmente alguma auto-defesa ou kumitê. Porém, seu filho queria um tipo diferente de Karatê, o que os Japoneses categorizam como um Karatê de tipo Budô. A maioria das pessoas não sabia que Yoshitaka Sensei praticava; eles não conheciam seu nível totalmente. Eu tive sorte porque vi Yoshitaka Sensei praticar, e fui afortunado o suficiente para ser capaz de experimentar este tipo de influencia técnica através da minha prática pessoal com Shigeru Egami, que era um parceiro de treino de Yoshitaka. Então para mim este tipo de prática foi completamente diferente do Karatê de Funakoshi O’Sensei.

JdC: Yoshitaka foi responsável por muitas inovações no Karatê Shotokan. Sua morte trágica em idade tão jovem deve ter tido um profundo efeito no potencial de desenvolvimentos que teriam continuado se ele não tivesse morrido. Como você pensa que o Karatê Shotokan seria hoje se Yoshitaka tivesse vivido até uma idade mais avançada?

MH: Se Yoshitaka tivesse vivido mais, então as coisas certamente teriam sido muito diferentes hoje. Yoshitaka certamente teria ignorado os membros originais da JKA. Ele teria se concentrado em seu grupo como os de Miyata e Morihana da Universidade de Takushoku e Okuyama, Muramatsu e Egami da Universidade de Waseda. Este grupo iria, depois das aulas da universidade para o Dojô Shotokan e praticar com Yoshitaka. Tendo visto Yoshitaka e do que ele era capaz nos anos 40 e também através do que eu experimentei como resultado de praticar com Egami, eu acredito que o nível técnico hoje, certamente seria muito diferente e de um nível mais alto caso Yoshitaka tivesse vivido.

JdC: Como é lembrado hoje Yoshitaka no Japão?

MH: Infelizmente, ninguém lembra dele, somente sabem seu nome.

JdC: Quais são as suas memórias do Karatê do Sr. Egami?

MH: O Sr. Egami tinha uma forma diferente do que a maioria dos instrutores, tanto que ele acreditava em absorver o ataque de uma pessoa com o seu corpo na hora certa, sem chocar-se e enquanto o ataque estava no seu pico. Isto era em contraste com os outros que empurravam ou colidiam com o ataque de uma pessoa quando o ataque tinha finalizado ou estático. Este tipo de contato físico de Egami somente seria possível se uma pessoa tivesse alcançado um certo nível, não um principiante. Quando eu pratiquei com Egami sempre era oizuki, gyakuzuki e mae-geri, isto era tudo e todas as vezes ele absorbia o meu ataque. Este tipo de prática eu nunca tinha experimentado. Através deste treino com Yoshitaka e também na Escola Nakano (Forças Especiais de Elite) Egami consegui desenvolver seu próprio método. Eu tive muita sorte e fui afortunado de ter treinado com Egami nesta etapa.

JdC: Durante seus treinos com Egami você se encontrava com Tadao Okuyama. Você pode descreve-lo?

MH: Quando eu estava em Waseda, Okuyama praticava todos os dias. Mas era difícil entender seu Karatê porque ele não mostrava muito, mas continuava enfatizando percepção, mas que tipo de percepção? Cada vez que ele ensinava, ele tinha grande interesse nesta percepção, mas isto era muito difícil de entender ou conseguir alguma coisa dele nesse exato momento. No entretanto, depois de eu ter encontrado Sr. Egami, ele me disse “Então Harada, o nível técnico de Okuyama esta por cima de Waka Sensei (Yoshitaka Funakoshi)”, foi isto o que ele falou! Okuyama acreditava que o karatê deve mudar ou nunca irá melhorar. Por exemplo, se um prédio tem apenas 5 andares, a única forma de ir mais alto é construindo mais andares. Então, o que é importante no desenvolvimento do Karatê? Ele não está criando mais bloqueios, chutes ou combinações. Isto seria como dizer a um corredor que ganhe mais velocidade, correr mais rápido, mas isto não é suficiente! Devemos olhar todo o regime do treinamento para desenvolver o corpo do corredor, então maiores velocidades serão atingidas. Isto também é verdadeiro para karatê. Para melhorar o Karatê devemos pesquisar como mudar fisicamente nossos corpos; isto é o que é necessário para mudar o Karatê.

JdC: Você sabe o que aconteceu com Okuyama?

MH: Ele está morando em Kyoto. Eu não tenho certeza se ele ainda está praticando, mas espero revê-lo este ano quando visitar o Japão.

JdC: Sendo você o pioneiro de uma Organização Shotokan, não afiliou-se ao Japão. Porque disto?

MH: Originalmente eu chamava o meu grupo de Karate-do Shotokan Brasil, significando uma filial do Shotokan do Japão. Escrevi uma carta para O’Sensei pedindo permissão para formar uma filial do Karatê Shotokan do Japão. Mas ele disse não! Ele queria que eu criasse Karatê Brasil como O’Sensei fez quando trouxe o Karatê de Okinawa para o Japão. Então eu chamava nosso grupo de Karatê-do Brasileiro, Shotokan do Brasil. Cada nação de Karatê deve ser independente e não necessariamente ser uma filial do Japão. Claro que reconhecemo-nos uns aos outros mas isto é suficiente.

JdC: Quando você ouviu de Egami sobre a morte de Gichin Funakoshi e da discordância sobre a organização do funeral, quais foram seu sentimentos sobre isto?

MH: Bem, discordâncias como estas não foram uma surpresa, assim como a maioria das pessoas queriam usar Funakoshi O’Sensei, usar seu Karatê para suas próprias vantagens. Como seres humanos todos procuramos por nossa vantagem pessoal, mas deve haver um equilíbrio. Infelizmente, no caso do karatê houve um desequilíbrio de 90% a favor de uma pessoa só e isto foi o caso do problema referente à morte de Funakoshi. Acho que o que aconteceu foi uma grande tristeza, pois como mencionei antes a filosofia de Funakoshi era para criar uma pessoa melhor através da prática do Karatê. Como resultado das ações de certas pessoas que rodeavam o funeral de O’Sensei, eles mostraram seu desrespeito por ele.

JdC: Você é de fato, bom amigo de Chiba Sensei, o famoso mestre de Aikidô. Como foi que o conheceu?

MH: Conheci ao Sr. Chiba no Concílio Britânico de Budô no Reino Unido. Um ou dois anos mais tarde encontramo-nos em Londres. Naquela época eu ia voltar para o Japão, então eu ofereci para ele o meu apartamento, onde poderia ficar, e também usar o dojô que eu estava usando em Kings Cross. Nossa amizade progrediu a partir desse ponto.

JdC: Há alguns outros professores de Artes marciais japonesas com os quais você esteja associado?

MH: Eu não estou realmente associado com outros professores Japoneses de Artes Marciais, mas sou amigo do Sr. Kase. Nos encontramos de tempos em tempos se nossos compromissos o permitem. O Aikidoka Sr. Tamara é um bom amigo. Eu também tenho amizade com o Sr. Kanazawa e o Sr. Shiomitsu. No geral os Shotokan e Shotokai resistem em encontrar-se comigo, portanto sou um intruso, o que é uma grande pena.

JdC: Sensei, você sempre teve pulso firme em sua forma de ensinar, você sempre ensinou dessa maneira?

MH: Como já disse. Egami acostumava usar esta maneira de ensinar e eu aprendi praticando com ele. Para melhorar o Karatê em uma pessoa, só é possível com essa forma de ensinar.

JdC: O Karatê que você ensina na KDS (Karate-Do Shotokai) está en constante evolução. Isso é reflexo de sua filosofia pessoal de como a arte marcial deve ser?

MH: Meu Karatê esta em evolução continua porque sempre há alguma coisa para aprender e como já disse – o Karatê deve melhorar! Eu dou para as pessoas métodos para que possam conseguir isto mas não posso dar técnicas, isto depende de cada pessoa. O método pode ser como defender-se o que as vezes funciona e outras não, mas a técnica é uma coisa do individuo e outras pessoas talvez reconheçam o fato de que uma pessoa mude, ou que alguma coisa seja diferente às coisas que elas preticam; forte ou não isso é outra questão.

JdC: Quanta ênfase você da aos Kata na KDS?

MH: Kata é importante, como uma forma de desenvolver os músculos de forma que fiquem fortes e flexíveis. Por isso é importante praticar o Karatê devagar, e depois com o tempo dar velocidade. Isto é baseado na minha própria experiência, por exemplo quando eu era mais novo não tinha interesse em Kata, apenas Kumitê, por isso eu criticava O’Sensei por isto, por ensinar o Karatê como uma ginástica e não como uma Arte Marcial. Quando fazíamos perguntas, ele respondia com suas próprias idéias, então os estudantes começavam a cometer erros e o Kata não servía para Kumitê real. Como resultado, perdíamos o interesse no valor do Kata. Se tivéssemos praticado Kata corretamente aplicando as técnicas como numa situação real, então aconteceria que a pessoa estaria condicionada a aplicar a técnica de forma eficiente.

JdC: Recentemente, você levou um grupo de estudantes KDS para o Japão para uma demonstração de alto nível e para participar de um evento internacional no Dojô Shotokan. Qual foi a reação dessa apresentação?

MH: (Harada Sensei abriu imediatamente um grande sorrisso) Todo mundo ficou muito supreso!!! Dizeram que foi uma coisa única e eu tinha convicção disso, assim como acredito que eu sou uma pessoa única pelas minhas práticas com Egami. Mas foi importante não apenas pelo que eu mostrei, senão que também pelo que os meus alunos puderam mostrar. Eles fizeram isso em Tókio e eu acredito que o meu grupo é o melhor grupo Shotokai no mundo.

JdC: Sensei, você já teve pessoas de outros estilos participando dos seus cursos?

MH: Sim, eles estão sempre participando dos cursos, e há diferenças., mas uma coisa importante é aceitar isso e se eles conseguem bloquear uma técnica, não há necessidade de mudar isso. Por exemplo, talvez haja diferenças com o Age Uke da forma que nos praticamos e a forma de um outro estilo que esteja treinando conosco. Mas, se eles conseguem defender o ataque de um dos meus alunos, então não há necessidade de mudar o que eles estão fazendo. É como um carro, é mais importante o design ou a verdadeira performance? Mas a maioria dos Karatekas estão mais preocupados com o estilo que eles praticam e isso é completamente ilógico.

JdC: O editor da SKM (Shotokan Karate Magazine) pediu para fazer esta pergunta para você: “No Shotokan o aspecto físico do Kime é basicamente a total contração muscular de todo o corpo por uma fração de segundo, até o impacto, para aplicar toda a potência ao alvo. Nos ouvimos que no Shotokai não há contração, apenas relaxação. Como você descreveria a diferença em termos físicos?

MH: Você mencionou que não há contração no Karatê Shotokai, apenas relaxação, mas isso não é verdade. Temos contração e expansão dos músculos mas a articulação tem que estar relaxada! Este relaxamento das articulações permite liberdade de movimento no momento de maior esforço exercido pelos músculos. Como resultado disso, uma ação suave, contínua e bem mais explosiva pode ser atingida pelos mesmos musculos. Assim como o próprio Kime, este conceito é muito difícil de explicar. A primeira vez que ouvi a palavra Kime estava no primeiro ano na Universidade de Waseda. Tínhamos que fazer cinco ataques - Gohon Kumitê; no quinto ataque tínhamos que defender e contra-atacar. A palavra “Kime-te” era repetida significando a finalização ou conclusão no quinto ataque.

Depois de voltar da minha primeira Escola de Verão comecei o meu segundo ano na faculdade. Até essa época já tinha ouvido a palavra “Kime” outras vezes. O Sr. Okuyama usava a palavra Kime como nos fazemos, mas a sua idéia era completamente diferente da explicação anterior, que eu já tinha ouvido. A idéia de Kime de Okuyama era mais relacionada à “percepção”, mas naquela época não conseguíamos entender o que ele queria dizer. Então em 1949 foi criada a JKA Kyokai e todas as universidades começaram a fazer seus exames juntas a cada dois anos. A palavra “Kime” era usada mais e mais, mas cada vez sua interpretação variava dependendo de quem era o examinador naquele dia. Havia muitas interpretações da palavra “Kime”. Mais tarde, quando comecei a praticar com Egami, perguntei a ele sobre Kime e ele me disse: “Não podemos vê-lo porque é invisível ao olho, portanto tudo é baseado em ideologias”. Para conhecer realmente o Kime é necessário bater numa outra pessoa. Tentei acertar Egami usando um tipo de Kime que eu tinha aprendido previamente, mas assim que toquei nele caí no chão. Então eu tentei novamente, abandonando completamente esse conceito de Kime que tinha aprendido; desta vez foi totalmente diferente! Portanto acredito que Kime é absurdo, é uma ideologia e não é real.

No passado eu tive quebrado madeira usando Uraken. Isso foi feito novamente, mas abandonando qualquer conceito de Kime. Apenas concentrando-me em como soltar o braço e o punho contra a madeira para quebrá-la. Você disse que no Shotokan o aspecto físico do Kime é pura contração muscular, mas isso não é Shotokan, isso é a idéia de Nakayama – Kime JKA! Portanto, o problema de explicar o que é Kime é quase impossível, pois é uma ideologia e difere bastante de uma pessoa para outra. Como resultado de minhas experiências pessoais, quero esquecer completamente essa idéia de Kime.

JdC: Hipoteticamente falando, se um grupo Shotokan se aproximasse a você para fazer um curso, você consideraria isso?

MH: Oh! Sim, sim, porque não! Se a minha agenda não estivesse muito lotada seria uma possibilidade. Mas um acoisa importante é que eles especifiquem o que gostariam praticar comigo. Se isto ficar claro, eu poderia preparar um programa e praticar com eles.

JdC: Sensei, você conseguiu atingir todos seus objetivos ou ambições, ou ainda terá uma ou duas montanhas para escalar desde o ponto de vista das artes marciais?

MH: Bom, essa é uma pergunta difícil porque eu não tenho um ponto final nos meus objetivos, assim como eu quero dar sempre um passo maior, nunca ficando no mesmo lugar. De esta forma parece uma espiral ascendente, parece que sempre estivesse no mesmo lugar, mas está constantemente crescendo. Essa é minha vida!

JdC: Finalmente Sensei, você está dando os toques finais no seu livro “Em Busca do Hakkei”. Seria possível descrever o que é Hakkei?

MH: Bem, Hakkei é uma palavra que encontrei recentemente. É claro que ela vem do Chinês, probavelmente está ligada com o Tai Chi. Uma vez assisti Ueshiba Sensei do Aikidô, arremessar uma pessoa sem sequer toca-la, eu duvidei disso naquela época e fiquei surpreso. Quando perguntei ao Sr. Egami o que era isso, ele me disse que o que vi era absolutamente real. Então perguntei a Egami, “se alguém me ataca com todo o seu poder e eu entro simultaneamente com Oizuki; é possível derribar essa pessoa sem ter contato físico?”. Egami respondeu que ele pensava que isso era possível e ele me incentivou a praticar até onde eu pudesse e atingir o resultado com sucesso. Suas palavras me fizeram pensar e lembrei do caso de Yoshitaka, quando os faixas-preta o atacaram. Este foi o ponto de partida para obter a minha versão, o Hakkei. Isto tem sido a questão da minha vida e talvez irá continuar nas futuras gerações do meu grupo. Eu devo manter esse tipo de sonho, vejo isto como Shangri-la. Esta é minha motivação para continuar vivendo.

JdeC: Mais uma vez Sensei, muito obrigado por ter concordado com fazer esta entrevista para a SKM.

MH: Tudo bem, muito obrigado a vocês!

Tradução da Revista Shotokan Karate Magazine de Agosto de 2001.

Colaboração

Juan C. Cuevas Burgos

5º Dan KDSB

Leonardo A.Cuevas Neira

2º Dan KDSB

Reglas de comportamento no Dojô

Regulamento do Dojô

1. Respeitar o Dojô (“Lugar onde se pratica o caminho, Budô”). Este lugar deve ser utilizado unicamente para a prática das artes marciais, salvo expressa ordem do Sensei.

2. Manter sempre uma atmosfera positiva ao seu redor.

3. Respeitar a etiqueta. O Karatê começa e termina com reverência.

4. Cumprimentar sempre seu companheiro, ele está emprestando seu corpo para que você possa desenvolver sua técnica. Utilize “Onegai Shimasu”, por favor, antes de começar o exercício frente-a-frente. Utilize “Domo Arigatou Gosaimashita”, muito obrigado, ao terminar.

5. Informar-se do modo correto de comportar-se, na dúvida, consulte um aluno mais avançado.

6. É decisão do Sensei seu aceite ou permanência no grupo de treino, e ter você como aluno.

7. Evite acidentes, avalie atentamente a situação e coloque-se no lugar do outro, antes de aplicar técnicas temerárias ou de difícil controle.

8. Respeitar a si mesmo.

9. Manter seu corpo limpo, unhas cortadas tanto dos pés como das mãos, mantendo especialmente os pés limpos utilizando chinelo fora do Tatami, recomendando-se lavar os pés antes da prática.

10. Manter o seu uniforme sempre limpo e em bom estado de conservação.

11. Manter os bons costumes. Não serão tolerados comportamentos inadequados.

12. Sentar sempre em Seiza, ou como as pernas cruzadas ao estilo Japonês.

13. Nunca se apoiar nas paredes, seja em pé ou sentado.

14. Ir até o Sensei quando for preciso. Não o chame para pedir explicações. Seu objetivo no Dojô é aprender, não questionar. Nunca discuta as técnicas.

15. Observar atentamente, sentado em Seiza, às demonstrações ou aplicações realizadas pelo Sensei. Em seguida, pratique com entusiasmo.

16. Tomar parte na responsabilidade de manter a limpeza do Dojô.

17. Beber água apenas quando autorizado. O treino está planejado para beber um copo de água uma única vez.

18. Não utilizar jóias ou acessórios, pois podem provocar sérios acidentes no treino.

19. Não consumir bebidas, alimentos, chicletes, balas ou similares no interior do Dojô.

20. Respeitar a hierarquia, em relação aos companheiros de treino mais graduados e Sempai (monitores).

21. Compreender que o Budoka (artista marcial) é humilde, respeitoso e cooperativo, mas não servil.

22. Respeitar às pessoas com mais idade, em despeito da sua graduação.

23. Buscar a evolução, treinando com afinco, seriedade e dedicação. As graduações não são produto à venda, mas fruto do esforço constante.

24. Cumprir rigorosamente o programa de treino, relativo a cada faixa, mantendo regularidade ao comparecer às aulas. A avaliação não é somente técnica, mas também inclui o comportamento e as suas boas intenções.

25. Aceitar a convocação a exame, uma vez que o convite é único, e não se repetirá.

26. Respeitar o horário de inicio da aula. Seja pontual, evitando atrasos.

27. Comunicar o Sensei antes do começo da aula, sempre que precisar sair antes do término desta. Sempre que possível evite esta situação.

28. Respeitar a data limite do aporte mensal. Atrasos prejudicam o pagamento dos gastos operacionais do Dojô (aluguel, contas de consumo, impostos e taxas). Sua pontualidade garante o local de treino, e de você a oportunidade de agradecer os ensinamentos recebidos.

29. Entender que a competição é componente das práticas desportivas e não representa o espírito das artes marciais.

30. Utilizar os ensinamentos unicamente com fins pacíficos. Machucar alguém é fácil, difícil é consertar o dano causado.

31. Erradicar do seu coração o sentimento de superioridade ou soberbia. Sempre há alguém superior.

32. Entender que as artes marciais são uma prática para a vida toda, não apenas um curso de duração limitada.

É necessária a aceitação destas regras, para estar habilitado a fazer parte de nosso grupo. Caso contrario, deverá repensar seu caminho.